terça-feira, 3 de setembro de 2013

A fertilidade alheia

A evolução natural de um relacionamento não tem necessariamente que passar pela procriação. Aliás, a maior prova de inteligência está em ultrapassar esse desejo de prolongar a linha do ADN no tempo e no espaço, está em admitir racionalmente a incapacidade de ser pai antes de o ser.

A minha intenção não é ofender ninguém. Apenas penso que cada um deve optar em consciência. Devemos ser felizes com as escolhas que fazemos e ninguém tem o direito de nos apontar o dedo por isso. Ter filhos não deve ser uma obrigação, mas sim um desejo. Afinal de contas não são eles que pedem para nascer e quando se quer que eles nasçam, há que ter disponibilidade para eles. Eles merecem-no, merecem ser amados e preparados para o futuro. Não são um projecto que se pode abandonar se correr mal. Não é um serviço que outros possam terminar se não formos capazes de o levar até ao fim.

Mas o problema nem está em perguntar pelos filhos a quem não os tem por opção que, com melhores ou piores argumentos, já têm a resposta pronta e estudada. No entanto, fazer essa pergunta a alguém que ano após ano, tratamento após tratamento continua com a esperança de os ter, é simplesmente uma crueldade de todo o tamanho. Quem pergunta não sabe, mas também não tem de saber. Isso só diz respeito a duas pessoas. Bastava não perguntar.

Ter filhos, infelizmente, não nos faz melhores pessoas e o que não falta são exemplos disso. Não devemos recriminar ninguém por não os querer ter como também não devemos ter pena de quem os tem. Cada um é para o que nasce, às vezes quer-se mudar e a natureza não é colaborante.

E agora, the last but not the least, uma nota bem pessoal: os cães não são substitutos dos filhos, como os filhos não são substitutos dos cães. Parem de fazer analogias e acusações. Tratem de acompanhar os vossos filhos em vez de dar palpites sobre a fertilidade dos outros.

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