quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Tarefas domésticas: A teoria da conspiração

Caro leitor, sim, para variar o género, é consigo que estou a falar. Encontrou a sua alma gémea, o tão desejado testo (ou tampa) para a sua panela. Mas já começa a ficar desconfiado. Há determinadas coincidências que teimam em acontecer sempre que se reúnem determinadas condições. Sente-se vítima de um qualquer plano maquiavélico, não é verdade? Pois. É natural.

É difícil encontrar algo que fique tão bem junto como tempo livre e a soneca no sofá. Mas depois do  voo em  queda livre para o sofá e ao primeiro toque das suas nádegas nas maravilhosas almofadas, há uma voz que se levanta – Queridooooooooooooooo, as compras já estão arrumadas? – Verdade seja dita, ninguém o mandou ir bater com os costados no sofá sem verificar se estava tudo feito. O facto é que não basta ajudar. Como morador da mesma habitação, a sua obrigação é trabalhar em prol da salubridade da mesma. O que me parece menos bem é a sua cara metade esperar que se instale confortavelmente para mandar o recado.

O seu clube está a jogar ou está a dar na TV a sua série preferida e lá vem a voz – Amooooooooooooooooooooooooooor, falta arrumar a louça da máquina! – Caramba, a louça não foge e, por isso, é preciso que alguém a leve para o armário. Mas a louça também não tem sentimentos, tanto lhe faz ser arrumada agora como mais tarde. Parece de propósito, não? 

Aproxima-se um dia importante a nível profissional e, para tudo correr bem, precisa da sua camisa da sorte ou, simplesmente, gostava mesmo de vestir aquela t-shirt. Adivinhe? Ainda não foi lavada ou falta passar a ferro. Aqui está mais uma coincidência do caraças. E o que fez para merecer isto? Provavelmente fez uma das seguintes opções ou, se calhar, até  as fez todas. Não costuma apanhar a roupa do estendal quanto mais pôr a máquina a lavar. Programas a dois só em casa e de pantufas. Sacudir a toalha é o mesmo que mandar para o chão as migalhas. A melhor altura para fazer a barba é depois de a casa de banho ter sido meticulosamente limpa.

Quanto à teoria da conspiração está convencido ou precisa de mais provas? Bem me parecia, passemos à retaliação. Isto vai dar trabalho, o não fazer nada não é solução. Mas estamos cá para o apoiar.

Se não fazer nada não resolve o assunto, fazer rápido e mal  também não. Apenas piora a situação e terá direito a sermão e missa cantada.  O plano a adoptar é o devagar, devagarinho mas bem. Qualquer tarefa é para fazer demoradamente, acaricie a placa vitrocerâmica como se fosse um peluche, manuseie e rodopie a esfregona lentamente e quase de forma erótica, não tenha pressa. Durante a realização de qualquer  tarefa, chame a cara metade de cinco em cinco minutos para confirmar se o que está a fazer está a ser correctamente feito – Bebé, está bem assim? É assim que queres? -  Não se esqueça de a tratar carinhosamente para a vencer pelo cansaço, levá-la a dizer a frase – Deixa estar que faço eu – e não provocar uma explosão. Mas se explodir, assuma o papel de vítima – Eu só quero agradar e ver-te feliz. Isso é crime, amor? 

Se seguir à risca as nossas orientações, em princípio, está safo. Se o plano não resultar, tem a satisfação de ver a sua casa arrumada e num brinquinho.

Este deu para muito trabalho de campo e pesquisa. Tinha que o trazer para aqui.

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