quinta-feira, 21 de abril de 2016

Ainda não acabei a longa história, mas tinha que escrever isto

Comer o recheio de um pastel de nata com colher e depois dobrar a massa folhada e comê-la à dentada, só fica bem se não fores um grande bronco. Bronco de aspecto e de trato. Rusticidade extrema. Vou fazer uma observação tendo em conta estereótipos: tão bronco, tão bronco que se quisesse ser gay, não o aceitavam. Comer um pastel de nata desta forma equivale ao conceito de "excêntrico": só funciona se fores rico para caralhão. Porque sem dinheiro, és só e apenas um parolão.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Ponham-se confortáveis que é uma história longa - parte II

Meias calçadas... Estão já cumpridos os 15 minutos de atraso... Miúdo finalmente pronto e colocado na área para sair... Entre o sai e o não sai... porta entreaberta! Boby Al-fayed gira sobre si próprio, aproveita a distracção e.... MEU DEUS?! Vai ser golo, vai ser golo… AO LADO! 

Ou seja, o cão tentou escapulir-se para a rua e quase que conseguia. Não fosse a “entrada duríssima” da porta. Ficou com uma das patas traseiras entalada e gania como um doido. O miúdo, aflito, agarra no cão sem abrir a porta. O cão, ao sentir o esticão, atraca os dentes no dedo do miúdo. Resultado: miúdo a chorar para um lado e cão a fugir para outro.


Boby Al-Fayed metido em casa, dedo do mais velho desinfectado e, raios, acontece o clássico: nunca há um penso rápido quando é preciso. “Olha, vou embrulhar-te o dedo em papel higiénico. É só um furinho - era mesmo só um furinho - e, o sangue, entretanto estanca. Quando chegares à escola, vais à casa de banho e deitas o papel no lixo. Ok?” O miúdo anuiu, mas não me convenceu. A tendência para o drama só lhe desapareceu aos 16 anos. E a fase pior do dramatismo foi esta, a da escola primária.


Pronto, finalmente a sair. Deixei-o na escola e segui para as finanças.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Ponham-se confortáveis que é uma história longa - parte I

Há muitos anos atrás, um colega da minha irmã perguntou-lhe se estava interessada em receber um cachorrinho de uma ninhada acidental. A minha irmã disse que sim e assim, passado dois meses da pergunta, entrou em casa um pequeno cachorro cruzado de caniche. 

O cão, uma bolinha de algodão preta e branca, recebeu o nome de Boby Al-Fayed. O nome assentava-lhe que nem uma luva. Não é que fosse um cão mau, era um bocadinho nervoso e na iminência de ser calcado, apertava os dentes. Bastava-lhe sentir o vento da passada que o bicho, prevenindo-se, mordia o dono do pé rasante.


O Boby Al-Fayed não era um peso pesado. Os seus sete quilos não assustavam ninguém e o facto ser manco também lhe dava algumas benesses. E era muito bonito, mesmo quando perdeu os dentes da frente e as manchas pretas acinzentaram com a idade, continuava a ser um cão muito fofinho. E continuava a morder, claro. Tinha os dentes de trás para isso.


Mas a história que quero contar, nada tem a ver com os inegáveis atributos físicos do Boby Al-Fayed.


Era uma manhã mais ou menos como todas as outras. Ainda morava em casa dos meus pais e tinha tirado o dia para resolver uma questão de ‘recibos verdes’ nas finanças.


Os meus sobrinhos, como já era costume, não paravam de berrar durante os preparativos para o dia escolar. O mais novo ficou pronto mais cedo. O mais velho, porque não queria usar meias, demorou mais tempo: levas o mais velho à escola? Assumi a tarefa. Ninguém me avisou que iria ser um dos dias mais longos da minha vida e com ‘réplicas’ em dias vindouros.